A Grande Revolução de Monteiro Lobato


Criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo e dono de uma obra sempre atual, Monteiro Lobato é responsável pela grande revolução que se dá na literatura infantil brasileira ao perceber que a criança é um ser capaz de produzir juízos críticos, demonstrando uma preocupação com o elo final da cadeia do livro, em um projeto pessoal do autor de transformação do país em uma nação de leitores.
Em 1921, com a publicação de Reinações de Narizinho, mesclando humor e uma linguagem despida de rebuscamentos, o escritor paulista legitima expressões folclóricas nacionais, numa defesa explícita da cultura popular do país e conduz seus pequenos leitores a uma reflexão mordaz da realidade brasileira.
Continuador de uma tradição que se inicia com o francês Charles Perrault, no final do século XVII e que se consolida a partir de novas obras como as de Andersen, Lewis Carroll, Dickens, Coelho Neto, Olavo Bilac, a obra lobatiana cria um universo onde a lógica do adulto não tem vez e desfilam personagens inusitadas como um burro falante, um sábio sabugo de milho, uma temperamental boneca de pano e torna a ficção realidade, permitindo ao leitor real penetrar nesse mundo maravilhoso e compartilhar de suas aventuras. A criança, dessa forma, recria e transforma o universo, ao mesmo tempo que se cria e se transforma.
Ao lado de autores sensíveis a uma forma de expressão representativa do povo brasileiro, portanto, livre do círculo de dependência dos padrões literários europeus, Monteiro Lobato busca sintonia com seu tempo, incorporando um sólido lastro de informações às histórias em um viés crítico com o qual o narrador e as personagens observam o mundo real e discutem aspectos que vão desde o capital estrangeiro que prejudica a autonomia econômica do Brasil à existência de petróleo em nosso território.
Contrapondo-se à literatura infantil que se mantinha conservadora e pedagógica, sua produção incorpora clássicos contos de fadas, utilizando-se de personagens nacionais e criando uma mitologia autônoma, que passam a ser usados como metáforas da vida social, política e econômica, numa postura antropofágica própria dos modernistas de 22, apesar de sua fama de conservador.
Nas palavras de Jean Perrot, em Os livros-vivos: um novo paraíso cultural para nossos amiguinhos, os leitores infantis (1998), pode-se dizer que o próprio livro joga e vence, ganhando mais leitores por meio do faz-de-conta do jogo literário, simplesmente por meio de uma iniciação lúdica às convenções culturais e à autonomia intelectual. Monteiro Lobato ao utilizar crianças como heróis, em sua empreitada revolucionária, possibilitou uma identificação imediata com o leitor, não aprisionando a criança através da fantasia, mas permitindo indagações, reflexões, questionamentos e, nesse sentido, muito mais do que ensina a uma criança “como ser”, propicia condições de “ser”, e ainda encanta.
Nilton Mariano

0 comentários:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

BIBLIOconexões

Este é o nosso blog oficial! Aqui poderemos discutir livros e ideias e propostas, esclarecer dúvidas, fazer críticas, sugestões, etc.

Você também pode aprender a fazer um BLOG! Faça o seu e o divulgue aqui!

E-quipe: biblioconectados!


.....................................................

Participantes